Primeiro dia do VIII é marcado por debate sobre Democracia e apresentação do livro “30 anos do SINDIFES: um lugar-refúgio para a memória”
O VIII Congresso dos Trabalhadores e Trabalhadoras das Instituições Federais de Ensino Superior (CONTIFES) teve início na manhã desta quarta-feira, 28 de maio. Mais de 130 delegados e delegadas, eleitos em assembleias sindicais realizadas nos locais de trabalho, participaram das discussões relacionadas às condições de trabalho, ao futuro do serviço público e ao plano de lutas para os técnico-administrativos em educação da UFMG, do CEFET-MG, da UFVJM e do IFMG. O evento está sendo realizado no auditório A102 do CAD2, no campus Pampulha da UFMG, em Belo Horizonte.
A abertura do evento foi conduzida por Cristina Del Papa, coordenadora-geral do SINDIFES, e Gislene de Fátima Silva, representante da Comissão Organizadora do Congresso, acompanhadas dos TAEs Leôncio D’Assumpção de Souza, Luiz Ricardo de Souza Corrêa e Reinaldo Trindade Proença, representando, respectivamente, o CEFET-MG, a UFVJM e o IFMG. Também participaram da abertura o professor da UFMG e presidente da APUBH-UFMG+, Helder de Figueiredo e Paula, e o tesoureiro adjunto do SINDCEFET-MG e também professor, Anselmo Paulo Pires, junto com o TAE da UFMG e presidente da Assufemg, Luiz Geraldo de Oliveira.4
Jornalista Juliana Dal Piva debate o papel da imprensa para a manutenção da democracia
A palestra de abertura do VIII CONTIFES contou com a presença ilustre de Juliana Dal Piva, jornalista investigativa do ICL e do CLIP, autora dos livros “O Negócio do Jair: A História Proibida do Clã Bolsonaro” e “Crime sem Castigo: Como os Militares Mataram Rubens Paiva”, e produtora dos podcasts “A Vida Secreta do Jair” e “No Alvo”, que aborda a trajetória do pastor Silas Malafaia e seu império religioso e financeiro. Compuseram a mesa, ao seu lado, Neide da Silva Dantas Mendes, coordenadora de Comunicação Sindical do SINDIFES, e Gislene de Fátima Silva, membro da Comissão Organizadora do VIII CONTIFES e TAE do CEFET-MG.
Juliana debateu as questões que atravessaram o regime democrático no Brasil nos últimos anos, a partir de provocações colocadas pelos congressistas. Para a jornalista, o avanço da extrema direita no Brasil tem origem em vários fatores, que passam pela irresponsabilidade de parte da imprensa hegemônica na cobertura das investigações da Operação Lava Jato, pela impunidade de Jair Bolsonaro ao cometer crimes de machismo contra a deputada Maria do Rosário ou de racismo após visitar um quilombo, entre outros. Segundo ela, a defesa da liberdade de expressão no Brasil não é absoluta, como ocorre nos Estados Unidos, onde discursos discriminatórios podem ser proferidos sem que haja punição por parte do Estado. No Brasil, a liberdade de expressão atua ao lado de outros direitos humanos para garantir a dignidade e a soberania dos cidadãos.
Contudo, ela ponderou sobre alguns dispositivos que atuam na sociedade brasileira hoje, como a ampla divulgação de fake news, denominadas por ela de mentiras e informações falsas. Para Juliana, esta é uma guerra perdida, porque, mesmo com o esforço dos profissionais de comunicação, há uma precarização do trabalho dos jornalistas, com redações cada vez menores, mesmo que as exigências do mercado tenham se transformado, de forma que a produção de notícias seja feita sempre com caráter de urgência. Ela ressaltou também que pessoas que produzem esse tipo de conteúdo não possuem nenhum tipo de responsabilidade, além de contarem com o apoio dos algoritmos das redes sociais, que são projetados para disseminar discursos de ódio.
Por fim, ela comentou que a democracia brasileira pode ser considerada estável, mesmo após os quatro anos de governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. Contudo, as instituições do país são muito frágeis, e muitas foram destruídas durante esse período. Por isso, o atual governo, sob o terceiro mandato do presidente Lula, precisou reconstruir o país e a democracia em diferentes aspectos. Entretanto, para Dal Piva, é necessário ir além da reconstrução: é importante avançar em políticas que garantam direitos para toda a população.
Livro “30 anos do SINDIFES: um refúgio-lugar para a memória”
Wellington Marçal de Carvalho, TAE da Biblioteca Universitária da UFMG, apresentou o livro “30 anos do SINDIFES: um lugar-refúgio para a memória”, produzido em celebração às três décadas de fundação do SINDIFES.
O livro foi organizado por Anália das Graças Gandini Pontelo, Neide da Silva Dantas Mendes e Wellington Marçal de Carvalho, a partir de 119 entrevistas com antigos diretores e trabalhadores do Sindicato, além de pesquisas em documentos armazenados na biblioteca da entidade. Como o próprio título do livro afirma, sua importância reside em registrar a trajetória de lutas e conquistas da categoria dos técnico-administrativos em educação representados pelo SINDIFES.
Análise de conjuntura
Durante a tarde, o Congresso recebeu Jairo Nogueira Filho, presidente da CUT-Minas; Vanessa Portugal Barbosa, presidenta da CSP-Conlutas; Érico de Moraes Colen, representante da Intersindical; e Valéria Peres Morato Gonçalves, presidenta da CTB. Os representantes das principais centrais sindicais trouxeram contribuições valiosas para o Congresso, por meio de análises ricas sobre a conjuntura política em esferas estadual, nacional e mundial.
Jairo Nogueira lembrou que a ascensão da extrema direita é um fenômeno que não está restrito à realidade brasileira, mas que atinge o mundo todo. Nogueira criticou veementemente o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, que tem colocado prédios e terrenos do Estado à disposição da União para quitar dívidas, sem amplo diálogo com a população mineira. O presidente da CUT também criticou os planos de privatização da CEMIG e da COPASA, diante do risco de deixar a população carente sem acesso à energia elétrica e à água potável, bens necessários para a reprodução da vida com dignidade. Por fim, ele se posicionou pelo fim da jornada de trabalho 6×1, para que trabalhadores e trabalhadoras possam ter qualidade de vida e bem-estar social.
Já Vanessa Portugal lembrou que o mundo hoje vive entre a dicotomia socialismo e barbárie, frente ao avanço da extrema direita em todo o planeta e à perda de direitos por parte da classe trabalhadora. Além disso, afirmou que o Brasil está situado entre a disputa de duas potências imperialistas — China e Estados Unidos — e que, para garantir melhores condições de vida e trabalho para a população, é necessário que a classe trabalhadora ocupe as ruas e exija seus direitos, em enfrentamento aos grandes empresários. No contexto nacional, Vanessa criticou a atuação do governo Zema, que gere o Estado para beneficiar a sua própria classe.
Em sua fala, Érico de Moraes afirmou que, para os grandes empresários e bilionários, o avanço da democracia não é interessante, uma vez que esse regime age para reduzir seus lucros e coloca em risco sua hegemonia de poder. Já com relação ao contexto brasileiro, ele falou sobre a importância de o atual governo revogar as reformas trabalhistas e previdenciárias, para promover a revalorização da CLT e garantir estabilidade e boas condições de trabalho para a juventude. Por fim, lembrou também da necessidade de um voto alinhado ao campo progressista em 2026, seja para barrar o avanço do conservadorismo e do neoliberalismo, no caso da eleição de um presidente de esquerda, seja para apoiar as decisões de governo, no caso da eleição de um candidato alinhado aos ideais da esquerda.
Para Valéria Morato, o principal desafio da classe trabalhadora na contemporaneidade é o enfrentamento à extrema direita. Por isso, ela destacou a importância da regulamentação das redes sociais e da inteligência artificial, já que ambas são ferramentas importantes para a disseminação de fake news, último refúgio do conservadorismo. Ela também comentou sobre a reforma trabalhista, que, além de precarizar as condições de trabalho e favorecer a terceirização, também atua como ferramenta de desmobilização da classe trabalhadora, em razão da retirada de representatividade. Por isso, defendeu que o governo Lula precisa atuar ao lado dos governadores para criar postos de trabalho com salários melhores e jornadas mais flexíveis. Nesse sentido, criticou também a falta de diálogo entre Zema e o governo federal, além dos planos de privatização e federalização de empresas e terrenos do Estado. Valéria defendeu a isenção de Imposto de Renda para trabalhadores e trabalhadoras com renda de até cinco mil reais mensais e a taxação das grandes fortunas.
Por fim, Cristina Del Papa analisou a importância do bloco econômico dos BRICS diante das decisões econômicas de Donald Trump, ex-presidente dos Estados Unidos. Para Cristina, a China só pôde enfrentar a sobretaxação de Trump por conta das relações com os demais países do bloco. Além disso, ela comentou a importância das discussões sobre a negociação internacional utilizando a moeda do país, para evitar a dolarização dos produtos no país de origem, o que eleva a inflação e reduz o poder de compra da população.
O VIII CONTIFES segue até esta sexta-feira, 30 de maio, com discussões relativas ao universo do trabalho dos técnico-administrativos em educação nas Instituições Federais de Ensino Superior.
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Disponível em <https://sindifes.org.br/cefet-mg-realiza-assembleia-sindical-geral-nesta-quarta-25/> Acesso: 25/06/2025 às 23:22